quarta-feira, 13 de maio de 2020

A classe operária do Século XIX.

A classe operária do Século XIX.

A classe operária do Século XIX.
quarta-feira, 13 de maio de 2020


O filme Germinal é baseado no romance do escritor Émile Zola, o 13º da série Les Rougon Macquart. Émile Zola foi um escritor francês, da linha naturalista, cujo expôs na sua obra Germinal detalhes sobre a vida dos trabalhadores franceses do século XIX, especificamente, de uma mina de carvão da França, bem como, da aproximação às ideias socialistas, da mudança das condições difíceis de trabalho e habitação observadas na Europa.
Émile Zola viveu por um período de tempo em uma mina de carvão, convivendo com os mineiros, dividindo as mesmas condições difíceis, para experimentar a realidade sofrida desses trabalhadores, como as altas temperaturas nas minas, falta de ventilação e riscos de desmoronamentos. Essa experiência foi importante na produção da sua obra.
No sentido de melhor compreensão sobre o período em questão, é essencial ter presente as razões do atraso da industrialização Francesa em relação, nomeadamente, à Inglaterra. Inicialmente a França tinha um crescimento económico lento, baixa taxa de crescimento demográfico, urbanização moderada, fraca procura do mercado, desigualdade na distribuição do rendimento, que aliado à fartura de mão-de-obra torna desnecessário a mecanização e inovação. Todavia a França é possuidora de tecnologia e inovações, embora não fosse detentora de grandes jazidas de carvão, sendo que, as poucas que possuía situavam-se em zonas de difícil acesso, tornando a sua exploração bastante dispendiosa. A instabilidade política também não permitia o crescimento, pois mobilizou os seus recursos e meios humanos. Na Inglaterra, a revolução da produção abundante de carvão, algodão, da máquina a vapor, entre outros, foi determinante para o desenvolvimento do capitalismo industrial.
A história de Germinal desenrola-se no norte de França, durante uma greve provocada pela redução dos salários, retratando o surgimento do movimento grevista, desencadeado por um grupo de mineiros Franceses do século XIX, no contexto da revolução industrial, do crescimento capitalista, modernização das máquinas, exploração da força de trabalho, e surgimento de ideais revolucionários contra a ordem econômica, e exploradora do trabalhador.
Período em que se assiste, a uma mudança nos métodos de produção, altera-se do método artesanal, para o mecanizado, através da introdução de máquinas no processo de produção, bem como, a utilização de carvão para combustão, (energia a vapor).
Neste contexto, nota-se também a difusão de uma ideologia para conciliar os interesses da burguesia proprietária das minas e dos mineiros. A burguesia, ao mesmo tempo que recebe os mineiros, para discutir uma saída para o fim da greve, mantém-se parada em relação às suas reivindicações, chegando mesmo no filme, a contratar estrangeiros, os belgas, para executar as atividades dos mineiros que aderiram à greve.
A estrutura do Estado é usada como instrumento de repressão aos trabalhadores, através do exército, que chega mesmo a assassinar um mineiro, que era tido como o líder da greve. Também a manipulação de líderes grevistas, era uma realidade com promessas de empregos e promoções, caso abandonassem a greve.
De fato as condições nas minas eram péssimas, os trabalhadores tinham que trabalhar de joelhos, com utensílios pequenos e em elevadas temperaturas. A ventilação era deficiente e a alimentação fraca, eram transportados até ao interior da mina através de vagões, correndo riscos de desmoronamentos e inundações.
Trabalhavam nas minas crianças, adultos, idosos e mulheres, a maioria começou em criança para ajudar na remuneração da família, uma vez que, os salários pagos eram baixos, o que forçava toda a família a trabalhar nas minas para melhorar o seu orçamento.
Os trabalhadores recebiam baixos salários, ganhavam 30 cêntimos por dia e quando aconteciam desmoronamentos, os mineiros eram ainda os responsáveis, sendo punidos com descontos nos seus salários. Para além disso, os proprietários das minas diminuem o valor pago por cada produção de vagonete, o que gera descontentamento, reivindicações e greves.
Efetivamente, a vida nas minas era tão dura que os mineiros que sofressem acidentes, eram retirados do trabalho, sem nenhum tipo de assistência por parte dos proprietários. Os idosos que conseguissem chegar aos 50 anos de trabalho recebiam uma pensão de 150 francos.
Por todas estas razões e sobretudo pelo desprezo da burguesia pelos problemas dos operários, assiste-se a revoltas. Os revoltados vão às minas, destroem máquinas, meios e instrumentos necessários para a produção, além de ameaçarem aqueles que se mantêm a trabalhar.
Os valores Liberais, conjugados com as características económicas do capitalismo industrial, modificam de forma decisiva como entendemos a organização social, por exemplo, no que concerne ao sistema jurídico fundamental, assumindo uma maior defesa dos direitos fundamentais, que culminou entre outros, no princípio da educação gratuita financiada pelo estado.
Neste sentido, dá-se mudanças na organização social, com o surgimento de novas classes socais, afastando-se do modelo organizacional de ordens, característica do antigo regime, devido à transição da sociedade agrária e rural para a industrial. A mudança na organização social resulta do rápido crescimento demográfico, provocado essencialmente pela diminuição da taxa de mortalidade e aumento da taxa de natalidade. Os progressos médicos, nomeadamente, de natureza nutricional têm implicações imediatas que resultam na alteração da geográfica das populações e consequente crescimento das cidades.
Esta criação de centralizações urbanas estão associadas aos fenómenos de migração interna, provocada pelo excesso de mão-de-obra e desejo de uma vida melhor.            Este sentimento evolui para a criação de movimentos sindicais, que visam lutar contra a posição dos patrões e da legislação que os favorece, destaque para o autor Karl Marx, que aborda esta temática como ninguém, na sua obra, Lutas de Classes.
Na sociedade francesa do século XIX, os notáveis exercem um poder económico e politico sobre os camponeses e operários. Neste período, caracterizado pelo desenvolvimento industrial, pelas novas técnicas de produção e pela multiplicação dos bancos, os notáveis são uma elite constituída por membros da nobreza, burguesia que impedem qualquer avanço para a democracia. Estes mantêm uma influência exclusiva sobre o Estado, desconsiderando as realidades sociais, numa sociedade dominada pela tradição, onde o regime censitário e fiscal conferem aos notáveis um poder político extraordinário.
A Revolução Francesa, (1789); a Guerra Franco Prussiana, (1870 e 1871), as sucessivas crises políticas e económicas, (1841 a 51) e a depressão, (1882) quebram o crescimento económico, que é contrariado pelo período da La Belle Époque. Um período de harmoniosa prosperidade, que precede a 1ª Guerra Mundial e que renova a credibilidade do país, assistindo-se a uma 2ª revolução industrial, nomeadamente, na eletricidade, automóvel e aeronáutica.
Em suma, a Europa do séc. XIX foi determinante no delinear do rumo da revolução industrial já iniciada no séc. XVIII, não só pelos grandes processos de mudança de produção, através do avanço tecnológico, com influência nas economias, mas também, pelas transformações de caráter político e social, transformando as sociedades.

Bibliografia

Monografia:

-Émile Zola, Germinal, Círculo de leitores, 1983. Tradução de Eduardo de Barros Lobo (Beldemónio).

-François Dreyfus, O tempo das revoluções, 1787-1870, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1981.Trad. do francês por Luís Pignatelli. Titulo Original: Le Temps des révolutions (1787-1870), Librairie Larrousse, 1968.

-Rémond, René (1994), Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias, Terceira Parte - O século XIX (pp.199 a 234) Lisboa, Gradiva.

Webgrafia:



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