quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A descolonização e espírito da Carta da ONU

A descolonização e espírito da Carta da ONU

A descolonização e espírito da Carta da ONU
quarta-feira, 2 de setembro de 2020

 


A política de descolonização, inscrita na Carta da ONU, teve a definição que foi imposta pelos vencedores da [II] Guerra....

Falar da Organização das Nações Unidas exige a compreensão das suas origens, abordar o tema “ garantir a manutenção da paz” Versus “Agressão”, compreender as consequências da Queda do Muro de Berlim e o fim do regime dos Pactos Militares.

A ideia de criação de uma organização supranacional havia já sido manifestada, por parte dos Aliados “vencedores da II Guerra Mundial”, através da Conferência de Moscovo de 1943 e reafirmada nesse mesmo ano na Conferência de Teerão.

Contudo só no final da 2ª Guerra Mundial através da Conferência de Yalta, em Fevereiro de 1945, surge A Organização Internacional ONU, para preencher o vazio deixado pela Sociedade das Nações na vida internacional e dar continuidade à ideia de uma organização supranacional, sendo convocado o início da conferência das nações unidas para 15 de Abril de 1945, na cidade de São Francisco nos EUA.

A Carta da ONU assinada a 25JUN1945 em S. Francisco nos EUA, reflete os interesses e valores do modelo de relacionamento societário, procura fazer convergir enquanto conjunto no seu texto princípios, normas e regras da sociedade internacional, vertidos em dois legados ocidentais; o legado maquiavélico que atende ao poder e à hierárquica das potências e o legado humanista que, atende aos valores e a paz pelo direito, inesperadamente os dois conceitos convivem harmoniosamente no que concerne a definição da regra do direito. Como expressa o Professor Adriano Moreira, sobre estes é importante definir agressão que embora não conste da Carta inicial, na Assembleia-Geral em 1974, através de uma resolução, deu-se o consentimento e enumeração exemplificativa das ações que se considera agressão, com a ressalva para a possibilidade do Conselho de Segurança puder qualificar outros atos como agressão.

O Conselho de Segurança da ONU, Órgão encarregado pela manutenção da paz e segurança internacional, originário do pacto das sociedades das Nações é constituído por (5) membros permanentes e (10) eleitos pela assembleia geral por um período de 2 anos. Detém atribuições exclusivas e concorrentes com as da Assembleia Geral. Assim o conselho de segurança tem capacidade de intervir com recurso ao uso da força (forças armadas), vê-se no entanto imobilizado por força dos mecanismos de criação das decisões, sendo o principal mecanismo o chamado direito de veto. Como consequência assiste-se a uma ineficácia do Conselho, uma vez que, ao contrário de tomada de decisões, limita-se a fazer recomendações a Assembleia, deixando ao critério dos Estados o fornecimento de tropas. Nas questões de votação na ONU, no âmbito processual há a necessidade de voto afirmativo de nove membros, nas outras questões para além deste último é necessário o voto afirmativo de todos os membros permanentes. Apesar das condicionantes a ONU dispõem de Força de Paz (capacetes azuis), que permite juridicamente à ONU atuar perante uma ameaça à paz. Apesar dos obstáculos a ação da ONU tem mostrado resultados significativos positivos, sendo que a sua ação estende-se a outras áreas da vida internacional, nomeadamente, através das organizações especializadas, nomeadamente, do FMI e da UNESCO...

O programa de descolonização que a ONU desenvolveu, revelou extrema importância a nível mundial, na promoção e adoção do modelo de Estado Soberano Ocidental à escala global, bem como, incentivou o relacionamento internacional entre os Estados.

Essencialmente a criação da Carta da ONU visou eliminar o direito de fazer a guerra que os Estados reivindicavam e por outro lado garantir o direito à autodeterminação dos povos. A adoção da Carta trouxe grandes responsabilidades no garantir de uma paz duradoura e justa e na eliminação do risco de uma guerra trágica como foi a 2ªGuerra Mundial. Não nos pudemos esquecer que até 1989, data da Queda do Muro de Berlim, vigorou a Ordem dos Pactos Militares, NATO, Pacto de Varsóvia, que se traduziu no bipolarismo, (EUA e URSS) e no consequente vazio da atuação da ONU (única iniciativa desse período foi a criação da Força de Paz). Na Agenda para a Paz de 1992, o Secretário-Geral Boutros-Ghali, estabeleceu a criação dos meios necessários para evitar os conflitos e para reconstruir as condições para a consolidação da paz, partindo da legitimidade de execução da ONU. A reforma institucional passou pela recuperação de finalidades originais da Carta de São Francisco, mas não só, a nova Ordem Internacional trouxe também a necessidade de inovações, nomeadamente, no repensar o conteúdo da Soberania dos Estados e o conceito da jurisdição interna. O que implicou a redefinição do conceito de segurança internacional, no sentido de se caminhar na criação de um verdadeiro sistema de segurança coletivo. O passado revelou que a ONU enquanto Organização Internacional e Supranacional pode garantir uma paz duradoura, e deste modo transformar o funcionamento da comunidade internacional. A importância da reforma reside na exigência de conseguir limitar a soberania, no plano da recusa do direito de fazer a guerra; na proibição de violar os direitos do Homem e o Direito Internacional. O Direito Internacional terá que evoluir no sentido de encontrar respostas para os desafios que se advinham. Em tempos de maior globalização a Instituição ONU é a entidade certa para alcançar a interação harmoniosa internacional, e como diz o Professor Adriano Moreira “Talvez a mais instante exigência seja a de uma função humanitária da ONU”.

 

 

BIBLIOGRAFIA

- Moreira, Adriano, Teoria das Relações Internacionais, Almedina 1955 a 2005, 5ª Edição

Pp.552-561 e pp.579-586.

 

- IMBER, Mark. “The Reform of the United Nations Security Council”. Internacional

Relations. Vol.20 (3), pp.328-334.

 

NOTAS:

 * Détente é uma palavra francesa que significa distensão ou relaxamento. O termo tem sido usado em política internacional desde a década de 1970. Este pode ser empregado para se referir a qualquer situação internacional, em que as nações anteriormente tinham um relacionamento hostil sem assumir um estado de guerra declarada, e que passam a restabelecer relações diplomáticas e culturais, diminuindo o risco de conflito declarado. O termo é frequentemente utilizado para referir a redução geral de tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos da América durante a Guerra Fria.

 

Presidentes americanos que através da sua política criaram e influenciaram a NOVA ORDEM MUNDIAL:

 

1933 - Roosevelt – iniciou a discussão da criação de uma agência que sucederia a liga das nações e a carta das nações unidas.

1947 - Truman - Plano Marshall planeamento de recuperação da guerra, "Dever dos EUA é apoiar todos os países livres que se recusam a ser subjugados por minorias armadas por pressões exteriores… ajudar os países livres a decidir o seu futuro.", Marshall, apela à internacionalização consentida. É publicado o famoso artigo Foreign Affairs, por George Kennan que chama atenção para o perigo comunista com reflexo interno na política conduzida por McCarthy;

1949 - Nascimento do Pacto do Atlântico Norte (NATO) em 4 de Abril de 1949, que apela de novo para a internacionalização não apenas militar mas também política, social e económica.

1953 - Eisenhower, no seu mandato tenta dominar o complexo militar – industrial que levou à consolidação do modelo de contenção;

1961 - Kennedy, renovou os planos de Quincy Adams, proclamou diante do muro de Berlim que a fronteira da América estava onde estivesse a fronteira da liberdade, (foi Assassinado a 1963);

1963 - Johnson o seu sucessor assumiu os seus objetivos com duas frentes: a luta pelo desenvolvimento com o nome de Grande Sociedade e a militar com a assunção da guerra do Vietname (desmoralizadora e derrota final). Johnson acabou por proclamar a Utopia da Grande Sociedade – Uma grande nação obriga-se a erradicar a pobreza do seu povo e mostra-se capaz de faze-lo, incompatível com a política armamentista;

1969 - Nixon, marca a revisão da perceção americana, o Pacifico assume o berço do futuro, vira-se para a China, conceito exprimido de André Malraux – era uma tragédia que o país mais rico e produtivo do mundo estivesse em desacordo com o mais pobre e populoso;

1972 - Devido ao caso Watergate Nixon em pede a demissão; 

1974 - Gerald Ford e (1977) - Jimmy Carter dois presidentes considerados fracos, foram obrigados a rever a logística do império e avaliar os métodos do governo da política externa;

1980 – R. Reagan, apelou às virtudes do modelo capitalista para produzir a Grande Sociedade, durante este período renovou-se a ideia de república imperial abalada por Nixon;

1982 - Chega ao poder na URSS Iúri Andropov, cuja conceção das relações internacionais são mais centradas no diálogo e no desarmamento;

1989 - George H.W.Bush, ex-Diretor da CIA – Bem informado sobre a situação real do país, sobre a sua capacidade e a disposição de resolver os desafios internos e externos, incentiva a revisão em conjunto com a URSS da política de corresponsabilidade mundial.

 

Acontecimentos que influenciaram a forma como os ocidentais observavam a URSS:

1917-24 -Confrontação violenta, período da revolução socialista;

1924-39 - Novo regime conseguiu obter reconhecimento ocidental,

1939-45 – Pacto Molotov – Ribbentrop, confrontação militar,

1945-47- Dissolução da Grande Aliança da Guerra,

1947-53 - Guerra Fria – Visualizava-se a terceira guerra mundial,

1958-61- Détente da Crise de Berlim,

1962 – Crise dos misseis de Cuba, instalação de misseis russos;

1965-73 – URSS, defensores do comunismo, participação no Vietname;

1968 – Primavera de Praga domínio da URSS sobre a Checoslováquia;

1950-70 - Período mais ideológico que operacional; Pacto de Varsóvia, (pacto da amizade);

1970-80 - Nova confrontação agravada pela corrida ao armamento;

1987-88 - URSS abdica de continuar na corrida armamentista com os Estados Unidos.

 

Carta das Nações unidas consiste num preâmbulo e uma serie de artigos divididos em Capítulos:

Capitulo I – Princípios e propósitos das nações unidas;

Capitulo II – Define critérios para se ser membro;

Capítulos III a XV Descreve os órgãos da ONU e seus respetivos poderes;

Capítulos XVI a XVII – Descrevem os convénios para integrar a ONU mediante a lei internacional estabelecida;

Capítulos XVIII e XIX – Elenca os critérios para retificação da carta.



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