Criptomoedas e a Mineração
Em sentido
genérico, uma cripto moeda é dinheiro, como as moedas que habitualmente
transacionamos no nosso cotidiano, com uma diferença fundamental é inteiramente
digital. Este tipo de dinheiro não é emitido por nenhum governo, como o caso do
euro ou do dólar, chamadas moedas fiduciárias.
O conceito
tácito das cripto moedas foi abordado em 1998 por por Wei Dai, onde propôs utilizar a criptografia para verificar a
realização de transações com um tipo novo de dinheiro. A grande consequência
desse novo conceito é que ao ser posto em prática, não existe mais a
necessidade de existir uma autoridade central controladora como acontece com as
moedas convencionais.
Na realidade
as cripto moedas são usadas com os mesmos destinos da moeda física, assumindo
três funções fundamentais, facilita as transações comerciais como meio de
troca, para a proteção do poder de compra no futuro através da reserva de valor
e também como unidade contábil, quando os produtos são tabelados e o cálculo
financeiro é realizado em função dela. Atualmente, o Bitcoin ainda não alcançou o estatuto de unidade de conta, por
conta da grande volatilidade que a sua cotação está sujeita.
Aqui chegados,
importa perceber como é realizada a produção deste tipo de dinheiro digital,
sendo que para isso é preciso abordar o assunto da mineração.
No sentido de
aprofundar o tema da mineração, é preciso saber que as moedas digitais, como o bitcoin, reproduzem um código complexo
que não pode ser alterado, porque as transações são protegidas pela
criptografia. Desse modo, como não existe uma autoridade que acompanhe as
transações, estas precisam de ser registadas, validadas individualmente por um
grupo de pessoas, ou melhor pelos seus computadores que estão a resolver os
cálculos matemáticos gravando-as no denominado blockchain. Este ultimo, mais não é do que um registro enorme de
banco de dados públicos, das transações realizadas em cada unidade de bitcoin, sendo que as outras moedas
também se baseiam no mesmo principio tecnológico.
Todas as
transações são únicas, quem regista essas transações são os mineradores, que
oferecem a capacidade de processamento dos seus computadores para realizar,
registar e conferir as operações em troca de remuneração de novas unidades de
criptomoedas.
Pelo exposto,
designadamente o bitcoin é criado
mediante a utilização de uma rede formada por milhares de computadores, a
resolver problemas matemáticos complexos que verificam e validam as transações
contidas no blockchain.
Resumidamente,
a mineração é a produção de novas unidades de moedas digitais, sendo que, à
semelhança da extração de oiro da terra, quanto mais computadores são usados
para o aumento da capacidade de processamento na mineração os problemas
matemáticos ficam cada vez mais difíceis de resolver, ou seja, isso acontece precisamente
para limitar o processo de mineração, sendo o bitcoin como o ouro um bem finito, conforme abordado mais frente.
Importa
referir que, apesar de o bitcoin ser
a moeda digital mais conhecida existe uma variedade de outras moedas com
características bem distintas.
O bitcoin,
(BTC) é a mais reconhecida das moedas digitais, tendo sido o primeiro sistema
de pagamentos global completamente descentralizado.
Em plena crise
financeira global de 2008, lançada pelo colapso no mercado americano, é
esboçado este sistema com o objetivo de eliminar o dinheiro papel e a
necessidade da banca intermediar as operações financeiras. A primeira prova
deste conceito foram aludidos num artigo assinado por Satoshi Nakamoto, pseudônimo de um programador ou de um grupo de
programadores, que até hoje não foram identificados. Este grupo de
programadores criou a logica de funcionamento do blockchain, que permitiu a existência do bitcoin, tendo sido ainda estabelecido um limite máximo de 21
milhões de bitcoins para circulação,
cujo limite se prevê ser atingido com a última moeda minerada no ano de 2140.
Numa tentativa
de aperfeiçoar o bitcoin original
surge o bitcoin cash, (BCH) em agosto de 2017, assim o bitcoin original que contava com taxas mais elevadas e maior tempo
no processamento de cada operação; é aprimorado pelo bitcoin cash que permitiu
um limite de de bloco de 8 mb, maior que o de 1 mb do original, o que facilitou
a confirmação de transações de forma mais rápida e com taxas mais baixas. O
processo de funcionamento é semelhante ao original também com um limite de 21
milhões de moedas.
Sobre a moeda
do Ether, em 2016 foi detetado por um
hacker uma falha no sistema que lhe
permitiu furtar 50 milhões de dólares em Ether,
o que originou o repensar do futuro da moeda, tendo a comunidade que a mantinha
criado uma nova rede, o Ethereum Classic,
cuja moeda de popularizou por Ethereum, (ETH). Após o apoio da comunidade
esta moeda ficou a valer mais do que a primeira versão, até porque, o Ether moeda original, não fora criado
para ser uma moeda digital como o bitcoin, ou seja, a ideia era ser um ativo
para recompensar os programadores pelo uso da plataforma Ethereum nos seus projetos. Esta plataforma descentralizada é
utilizada para execução de contratos inteligentes; que são operações
automatizadas que acontecem quando certas condições são observadas. Como no
bitcoin, na base de validação das transações com Ethereum, está também a blockchain
garantindo a segurança evitando enganos, cuja criação de novas moedas
assenta também no processo de mineração, sendo das criptomoedas mais negociadas
do mundo.
Por outro
lado, a moeda Tether, (USDT), lançada
em 2014 é uma stablecoin, porque tem
alicerce na moeda física, ou seja, esta mantem uma paridade com o dólar
americano, o que significa que por cada Tether
produzido é preciso existir um dólar equivalente em cofre. A principal
característica desta moeda é ser uma moeda estável, com menor volatilidade
representando as moedas físicas no mundo digital, tornando-se na opção para
executar transferências das diferentes cripto moedas pelos sistemas. Esta
diferença permite aos investidores se protegerem das várias variações de preços
de outros ativos evitando perdas avultadas durante as operações, é negociada
essencialmente na bitfinex, uma bolsa
de criptomoedas que tem acionistas em comum com a empresa Tether controladora da moeda.
Outra moeda de
destaque criada em 2011 é o Ripple,
(XRP), que é baseado num protocolo de pagamento a funcionar no sistema XRP, uma
das características desta moeda é o suporte de tokens na sua rede, que é a representação de moedas convencionais e
outros bens. Este sistema permite realizar pagamentos imediatos e seguros,
pensado pelo programador Ryan Fugger,
o gestor Chris Larsen e o programador
Jed McCaleb, esta moeda é mais que um
tipo de dinheiro, é um sistema em que qualquer moeda, como por exemplo, o
bitcoin pode ser negociada. Em certa medida de funcionamento o Ripple pode-se comparar com os bancos,
porque pode aceitar vários ativos facilitando a realização das transações. Por
essas razões o Ripple caminha em
sentido oposto ao idealizado pelas restantes moedas digitais, que têm como
ideologia a não dependência no sistema financeiro convencional para a
realização das operações. Outra forte característica é que não existe um
processo de mineração, como concretamente no caso do bitcoin ou Ethereum.
Antes de
terminar a abordagem sobre as cripto moedas, é necessário falar ainda de mais
uma moeda semelhante ao bitcoin, o litecoin, (LTC), criado em 2011 por um
ex-funcionário do Google Charlie Lee, porque tem como característica a redução
no tempo da confirmação das transações no processo de mineração, facilitando a
participação no processo de criação por qualquer pessoa. Com um processamento mais
rápido, esta moeda é o mais indicado na realização da transações do dia-a-dia e
ao contrário do bitcoin que funciona
como reserva de valor esta moeda tem um limite superior de produção tendo como
limite os 84 milhões de moedas.
Em suma, o
cripto moedas são ativos, fruto de uma recente tecnologia de logica avançada de
funcionamento, sendo que, ainda existe muito por entender na operação das
mesmas, contudo oferecem vantagens em relação às moedas físicas e outros meios
de pagamento, por exemplo, liberdade de pagamento; tanto a receber, como a
pagar é instantâneo, com taxas muito baixas ou até inexistentes, segurança nos
dados pessoais aquando dos pagamentos sem os vincular, protegendo assim a
identidade e até furtos com a utilização das cópias de segurança através da
criptografia. Todas as informações estão registadas na blockchain e nenhuma instituição pode controlar ou manipular o
protocolo da moeda digital. Por outro lado, do ponto de vista menos positivo
temos a grande volatilidade das moedas que estão na correlação direta do grau
de aceitação dos utilizadores, sendo que ainda existe poucos estabelecimentos a
aceitar essa forma de pagamento. As cripto moedas estão cada vez mais a ganhar
visibilidade, e os analistas de mercado, vislumbram um amadurecimento de
mercado com a redução da volatilidade ao longo do tempo.
Após
compreender o que são e como funcionam as cripto moedas, mergulhamos no
conceito de mineração como suporte ao projeto de turismo rural. Já existem
muitas pessoas a utilizar a mineração como forma de suportar, por exemplo, as
despesas de manutenção dos condomínios, mas parece-me inovador o conceito de
sustentabilidade de um negócio através da mineração.
Segundo Bazan,
(2018) há duas maneiras de obter as cripto moedas, ou pela sua compra em site especializado para o efeito ou
através do processo de mineração, através de cálculos matemáticos
computacionais do hardware para
descriptografar novas transações da moeda em um novo bloco, validando-o,
inserindo-o no Blockchain, ganhando-o
uma recompensa nessa moeda. É portanto essa a decisão de sustentabilidade que
se quer implementar no projeto de turismo rural, investir em equipamentos
capazes de garantir o ROI, (retorno do investimento), permitindo ainda após
essa fase, alimentar o negocio com capital suficiente para que mesmo que o core business não esteja a rentabilizar
como se ambiciona, o negocio não fica comprometido, porque é sustentado pela
mineração.
Ao longo do
tempo, a inovação é notável no que concerne aos equipamentos utilizados para
minerar, aparelhos mais específicos e mais eficientes foram criados para a
mineração (ALKUDMANI, 2020), sendo que, o retorno está intimamente ligado ao
tipo de máquina utilizada, quer seja baseada em placas gráficas ou asics, sendo
que, para este
Pelo exposto, de forma resumida a posse de placas de vídeo, processador, memoria e uma placa mãe com um número considerável de slots pci express e uma fonte de alimentação daria para iniciar o processo de mineração, (Financialmove, 2018), todavia apesar das placas de vídeo servirem bem o propósito, elas foram criadas com outras funções, dai a escolha de um antiminer. Esta possui um desempenho elevado na resolução de cálculos matemáticos essencial para minerar cripto moedas. Segundo Bazan, (2018) esse computador pode ser comprado em site especializado, existindo vários modelos no mercado, onde as principais diferenças entre eles são poder de processamento e o consumo de energia.
Segundo Riggs
(2019) a bitmain criou a antminer Z11
que tem três vezes a capacidade de processamento do anterior modelo, superando
as máquinas concorrentes em consumo de energia e eficiência. Importa esclarecer
e como plano de contingência que existe alternativa a estas máquinas dedicadas,
por exemplo, formar a conhecida pool de
mineração, que mais não é do que várias pessoas a combinar o poder
computacional das suas maquinas para uma maior eficiência e desempenho e, à
medida que se têm uma recompensa, ela é dividida por todos os participantes
(PASTORINO, 2018).
Ainda em
alternativa, temos o processo denominado de Clound
Mining, que se traduz no investimento de determinado valor em uma empresa
que possui equipamentos de mineração, (hubmines.com), oferecendo dividendos percentuais do
montante investido, em forma de valor fiduciário ou em moedas digitais, (LESSA,
2020).
O cripto
moedas estão na moda, é de fato uma tendência de gerar renda rápida, sendo cada
vez mais conhecidas e utilizadas pelo mundo. Em Portugal, mesmo que esta
tecnologia ainda não seja muito acessível, até por causa da falta da
regulamentação e de poucos estabelecimentos as utilizarem como meio de
pagamento, pouco a pouco observa-se a sua introdução e prevê-se a sua
implementação, que acabará por revolucionar os meios de transferência e troca
de bens e serviços.
Em suma, as
possibilidades são imensas, devido à rentabilidade e margem de lucro que a
mineração oferece, podendo ser o alicerce de muitos negócios, a variedade de
cripto moedas e as respetivas valorizações dependentes das oscilações de
mercado, podem fazer a diferença de escalabilidade das próprias empresa que as
adotam. Claro que o jogo de compra e venda se assemelha à bolsa tradicional,
mas a vertente de produção, mineração pode permitir para além de um ganho constante
real, diário, mensal e anual, a possibilidade a longo prazo, de um ganho
substancial como já aconteceu, passando um bitcoin, de um valor zero a 69.000
dólares, (https://coinmarketcap.com).
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