Reflexão sobre Identidade da Europa

segunda-feira, 18 de novembro de 2019
Falar sobre a identidade da Europa é
sobretudo refletir sobre a sua história, que é de uma tamanha ampla
abrangência, que penso ser permitido concluir que não cabe no cômputo desta reflexão, o seu estudo aprofundado, mas sim o seu entendimento genérico.
Francis George Steiner nasceu a 23ABR1929, é professor, escritor, crítico da
literatura e da cultura. É poliglota, domina três línguas nativas, alemão,
francês e inglês. É aclarado como pessoa extraterritorial, é professor emérito
de Churchill College, Universidade de Cambridge, (desde 1961), e da
Universidade de Oxford; a sua principal área de interesse é a literatura
comparada. É autor de mais de quarenta livros, incluindo “The Death of Tragedy”
e “After Babel”. Em apresso, o ensaio de George Steiner vê uma europa
alicerçada nas suas raízes mais profundas, na história da sua gente, define a
Europa através de 5 Ideias força; nas casas de café; na paisagem à escala
humanamente atravessável; nas ruas e praças com o nome dos estadistas, cientistas,
artistas, escritores do passado; na dupla descendência de Atenas e de
Jerusalém; e, por último, na autoconsciência europeia de mortalidade das
civilizações. Neste sentido é necessário recuar até há Europa da Antiguidade
Clássica Grega, onde encontramos a origem Etimológica da palavra Europa: Europa
princesa asiática, filha do Rei da Fenícia Agenor, que contem um forte sentido
mitológico de liberdade, mas é na ascensão do Império Romano, que a palavra
Europa assume um forte sentimento de universalidade de mundo habitado. No séc.
V, após a sua divisão e queda, a Europa assiste há primeira rutura na unidade
do mundo clássico, seguida por outra, que ocorre dois séculos mais tarde, com a
conquista Árabe-Muçulmana. Assiste-se há transferência do conceito geográfico
de Europa para o Ocidente. Uma nova unidade surge do Sacro Império de Carlos
Magno, Pai da Europa, a ideia de império herdado de Roma é substituída pelo
universalismo cristão. Com o Tratado de Verdum de 843, Divisão da Europa em 3,
cria-se a base da Europa das Nações. A falta de homogeneidade seria acentuada
pelo Grande Cisma de 1054. Contudo apesar das ruturas a ideia de cristandade
prevalece, graças aos avanços do Islão que enclausurando o cristianismo na
Europa, gerou movimentos personificados nas cruzadas e nos interesses
nacionais. A histórica da Europa, assenta em três ideias chaves: a Liberdade
(Antiguidade Clássica), a Cristandade (Idade Média) e a Civilização
(Iluminismo). É no período que vai do renascimento ao iluminismo que a palavra
Europa volta lentamente a ser introduzida, deixando para trás o conceito de
Ocidente e Cristandade, (contribuições da Reforma e Contra-Reforma). Mas é no
século XVIII com o Iluminismo que se redefine a Europa como Civilização e se dá
aproximação do Leste ao Ocidente. Uma nova tomada de consciência, onde os
ideais pacifistas ganham importância, destaque para o Abade de Saint Pierre e o
seu “Project pour rendre la paix perpétuelle en Europe”. Chegados ao fim da
europa do seculo das luzes, inicia-se a europa revolucionária do séc. XIX, com
destaque para a independência dos E.U. e o fim do antigo regime na França,
dando início ao mundo contemporâneo. Após o Congresso de Viena 1814, surge uma
Europa de Nacionalismo e Liberalismo, que procura a sua independência e
unificação. Mais tarde com o combate ao imperialismo e disputa pela repartição
do mundo colonial, dá-se a catastrófica 1º Guerra Mundial, (1914 a 1918). É no
período pós-guerra, que Coudenhove Kalergi cheio de esperança em garantir a paz
na europa e um mundo melhor consegue conquistar o apoio de 2 políticos, Herriot
e Aristides Briand, que a 05SET1929 na sociedade das nações dá prioridade a
estreita cooperação económica entre as nações. A 01Mai1930 o memorando Francês
estabelece uma “União Moral Europeia”, baseada em princípios de solidariedade e
de cooperação. Os grandes objetivos eram o da Paz, Segurança e Cooperação
Económica, garantidos através do congresso europeu, comité político e do
secretário permanente. Em SET1930 Briand assume a presidência da Comissão de
Estudo para a União Europeia, que se dissolve em 1932 após a sua morte. O
insucesso da sua proposta deveu-se a vários obstáculos, nomeadamente, à
resistência do reino unido e à crise económica mundial. Consequentemente, os
governos adotam medidas protecionistas, que levam a insatisfação geral dos
povos, facilitando a adoção ao socialismo nacional, como ocorreu na Alemanha,
que terminou na 2ª guerra mundial. O final da 2ª Guerra Mundial (1939-45) traz
à Europa uma nova realidade de destruição; sendo este cenário transversal a
toda a europa, logo se encontram os primeiros entendimentos para a
reorganização europeia. Neste sentido é lançado o Plano Marshall que constituiu
verdadeiramente o 1º ato da construção europeia. O plano da Doutrina de Truman
teve um papel decisivo no processo de formação das organizações europeias e na
adoção de uma posição favorável à criação dos Estados Unidos da Europa. Neste
contexto solidário é assinado a 16ABR1948 o Tratado que institui a Organização
Europeia de Cooperação Económica (OECE), visando organizar e distribuir o
auxílio americano. Esta cooperação económica viria a ser alargada à cooperação
militar, com a assinatura do Tratado de Atlântico Norte (OTAN) a 04ABR1949. A
constituição do Conselho da Europa, a 05MAI1949, demonstra uma ambição ainda
maior, contudo as primeiras organizações e a cooperação conseguida não alcançou
os efeitos desejados, devido à persistência das nações em manter as suas
soberanias, (Fontaine, 1998- p.10). É sob o designo da integração que Monnet,
Schumann, Adenauer, e mais tarde Gasperi, retomam o projeto de construção
europeia, numa perspetiva mais comunitária. Neste contexto o Plano de Schumann
é apresentado, na Declaração de 09Mai1950, que traduz uma visão de construção
europeia integrada e assente no carvão/aço e na evolução natural da comunidade
económica. A criação da Alta Autoridade, instituição supranacional, teve um
efeito mobilizador, e os Estados da Benelux e Itália depressa se empenharam na
sua concretização. Assim em Paris a 18Abr1951, procede-se a assinatura do
Tratado da Comunidade Económica do Carvão e do Aço (CECA), pela Alemanha,
Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, que entra em vigor a
25JUL1952, por um período de cinquenta anos. A CECA era constituída por quatro
grandes instituições: Alta Autoridade; Conselho de Ministros; Assembleia da
Comunidade e a Corte de Justiça. A sua importância foi grande, pois foi o motor
político, de estímulo da cooperação franco-alemã, e a nível económico a
recuperação da Europa e criação do mercado comum. Embora o êxito da CECA tenha
excedido todas as previsões, existiram recuos como o da Comunidade Europeia de
Defesa. E 6 anos após a assinatura do Tratado de Paris, os “seis"
sentam-se há mesma mesa, para o 2º degrau da construção do projeto europeu, é
assinado 3 Tratados de Roma a 25Mar1957. Um instituía a Comunidade Económica
Europeia (CEE), o outro a Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA ou
EURATOM) e o último os anexos. Projeto ambicioso estabelecendo um Mercado
Comum, assente na liberdade de circulação de capitais, serviços, mercadorias, e
pessoas. Com objetivos traduzidos na definição de políticas concretas, destaque
para a união aduaneira, e para as políticas comuns. A importância também
patente em políticas sociais com a finalidade de diminuir as desigualdades
sociais e regionais, como a criação do Fundo Social Europeu entre outras. Desde
o início a Organização Europeia Supranacional recolheu fortes oposições, mas
sem dúvida os Tratados da CECA, CEE e CEEA, são marcos decisivos e
concretizadores da construção do Projeto Europeu, que continuou com as
alterações do Tratado da CEE e hoje União Europeia. Concluindo após uma análise
da evolução histórica da Europa, com especial destaque para a 2ª guerra mundial,
e consequente construção do projeto europeu, somos capazes de introduzir na
problemática da busca de identidade de europa, fatores como Cultura, Geografia
e Línguas. Segundo George Steiner, urge parar a drenagem do nosso melhor, dos
jovens talentos da Europa, para as ofertas salariais apelativas dos E.U.. Sendo
também importante travar a disseminação global da língua-Americana, aproveitar
a universalidade da internet para revogar fronteiras e ódios antigos, defendendo
a salvação pela diversidade social e cultural, já que, é absurdo, pensar em
rivalizar com o poder económico, militar e tecnológico dos E.U., (em contraste
à realidade diferente da Asia, representada pela China).
Considerações
finais complementares:
Assegura a história, que a Europa é
mais do que o recente projeto da comunidade europeia, porém o projeto europeu é
o maior fator a ter em conta, quando se busca uma linha orientadora definidora
da identidade da Europa. O projeto europeu é um processo de cariz inacabado e falar
da identidade da Europa é cada vez mais difícil, contudo mais recorrente,
devido a atual crise económica e consequente descredito popular nos valores
perpetuados na origem do projeto europeu. Exemplo disso é a obra de Yanis
Varoufakis “O Minotauro Global” e a “A Tragédia” de George Soros, onde procuram
explicar as razões que conduziram a Europa ao seu estado atual. A falta de
empenhamento das instituições na realização de políticas de emigração e a insistência
em políticas de austeridade leva a que muitos comecem a questionar a sua
continuidade, chegando mesmo a desistir, como é o caso da Inglaterra (Brexit).
Atento à obra “Memorias de um Outono Ocidental: Um seculo sem Bússola” do
Professor Adriano Moreira, nós caminhamos numa europa sem rumo, distanciando
gerações, provocando a morte antecipada da geração mais velha e seguindo um
rumo de democracia não efetiva que nos vai conduzir à desordem mundial.
BIBLIOGRAFIA
Online:
https://es.wikipedia.org/wiki/George_Steiner (última consulta 05 Novembro 2016, 22:00)
Monografias:
PÉRES-BUSTAMANTE, Rogélio e COLSA,
Juan Manuel Uruburu - HISTÓRIA DA UNIÃO
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RIBEIRO, Maria Manuela Tavares - A IDEIA DE EUROPA, Uma perspetiva histórica,
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(pp.56-68);
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FONTAINE, Pascal, A CONSTRUÇÃO EUROPEIA DE 1945 AOS NOSSOS
DIAS,
Edição Regista e atualizada por José
Barros Moura, Coleção Memo, Vol.3, Gradiva, 1ª Edição, Janeiro de 1998, pp.
(9-19);
SOULIER, Gérard, A EUROPA História, Civilização, Instituições, Coleção História e
Biografias direção António Oliveira Cruz, Vol.10, Instituto Piaget, 1994,
(pp.278-269)
João Carriço
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