Ambiguidade da relação ancestral Europa-Ásia, dos primórdios ao Renascimento.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Relação ancestral Europa-Ásia
É no contexto da Europa da Antiguidade Clássica
Grega, que encontramos a Origem Etimológica da palavra Europa: Europa princesa
asiática, filha do Rei da Fenícia Agenor é raptada por Zeus, que a leva para
Creta. Na interpretação de alguns estudiosos, esta realidade mitológica
conduz-nos já à ideia de mobilidade (rapto), poder e de soberania (incarnado em
Zeus) de que a Europa é reflexo. É nesta realidade onde encontramos a primeira
ideia chave, Liberdade. Derivada das várias conceções dos autores gregos, cuja
linha de pensamento adicionou ao conceito geográfico, (contexto de diferenças
ao nível das línguas, usos e costumes), os sistemas de governo. A forma de
governo das Cidades Estados símbolo da liberdade política e da liberdade grega
em oposição ao despotismo Persa. Com a ascensão e expansão do Império Romano, a
palavra Europa embora utilizada, passa a estar impregnada de um forte
sentimento de universalidade, o conceito político deixa de estar confinado às
fronteiras, mas ao oikoumene, (mundo habitado). Vista como parte do todo, detém
no entanto uma posição privilegiada neste universo, é a sede do poder dominador
e o centro de decisão. No séc. V, após a divisão e queda do Império Romano, a
Europa assiste há primeira rutura na unidade do mundo clássico, sendo que, a
segunda ocorre dois séculos mais tarde com a conquista Árabe-Muçulmana.
Assiste-se há transferência do conceito geográfico de Europa para Ocidente. Uma
nova unidade surge do Sacro Império de Carlos Magno, Pai da Europa, a ideia de
império herdado de Roma é substituída pelo universalismo cristão. Subjacente a
este conceito a fragmentação, bem patente no Tratado de Verdum de 843 (Divisão
da Europa em 3), segundo alguns autores poderá estar na base da Europa futura,
a “Europa das Nações”, a falta de homogeneidade seria acentuada pelo Grande
Cisma (1054). Mas a ideia de cristandade prevalece, apesar de todas a ruturas e
fraturas, em muito graças aos avanços do Islão que enclausurando o cristianismo
na Europa, gerou movimentos de “adesão”, personificado nas cruzadas e nos
interesses nacionais.
"o Iluminismo na construção de uma ideia de “Europa”
A
histórica da Europa, assenta em três ideias chaves: a Liberdade (Antiguidade
Clássica), a Cristandade (Idade Média) e a Civilização (Iluminismo). É no
período que vai do renascimento ao iluminismo que a palavra Europa, volta
lentamente a ser introduzida, deixando para trás o conceito de Ocidente e
Cristandade. Para esta mudança em muito contribuiu o impacto criado pelos
movimentos da Reforma e Contra-Reforma e o regresso às fontes clássicas. Mas é
no século XVIII com o Iluminismo que se redefine a Europa como “Civilização” e
se dá aproximação do Leste ao Ocidente. Uma nova tomada de consciência,
traduzida na procura de equilíbrios, que se torna no conceito operativo a nível
do pensamento e da prática política, traduzido na influência do Direito Natural
e do Direito Internacional. Os ideais pacifistas ganham importância, destaque
para o Abade de Saint Pierre e o seu “Project pour rendre la paix perpétuelle
en Europe” que iria servir de mote a numerosos escritos, sobre a ideia de
“União Europeia” nos Projetos de “Paz Universal”. É a Europa da Separação de
Poderes, impulsionada pelo movimento da expansão marítima e dos inequívocos
sentimentos de superioridade. De facto é com o iluminismo que se inicia o
desenho cartográfico da europa moderna.
"Concepção de Idade Média acalentada pelos Românticos"
No
séc. XIX o carácter romântico criou a ilusão de que na Idade Média já havia uma
ideia de Europa, aliado às ruínas de Roma (elemento latino), aos povos bárbaros
(elemento germânico), liderados pela Igreja Cristã formando a verdadeira
civilização europeia, (1815 dá-se a Aliança Sagrada). As visões idealizadas da
religião e da política da Idade Média eram muito populares no período
revolucionário, e estes ideais eram associados o conceito de Europa. Foi apenas
no séc. XV que se tornou frequente associar a identificação da Europa com o
Cristianismo, contudo no início do séc. XIX a ideia de Europa era projetada
muito mais atrás na história. De facto a ideia de Europa na Idade Média não
tinha existido, limitava-se a uma mera expressão geográfica. A Restauração viu
a aliança opor-se à Revolução, duas visões de Europa divergentes: entre os
defensores da Sagrada Aliança: a da unidade cristã defendida pelos românticos e
a do equilíbrio de poderes defendida pelos realistas conservadores. Entre os
progressistas a ideia de Europa estava ligada a uma certa análise da evolução
histórica do continente, contrapondo-se aos românticos reacionários. Durante a
primeira metade do séc. XIX, os movimentos nacionais tinham base romântica,
enquanto os românticos reacionários glorificavam a Idade Média, os românticos
progressistas buscavam inspiração nas ideias da Revolução Francesa. A era do
idealismo romântico termina e a segunda metade do séc. XIX foi dominada pelo
realismo político, (nacionalismo), assistindo-se por toda a Europa a movimentos
de unificação, (Itália, Alemanha) e de anexação (Napoleão, Bismarck).
João Carriço
Ambiguidade da relação ancestral Europa-Ásia, dos primórdios ao Renascimento.
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João Carriço
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